O que vem depois dos agentes de IA?

Assim como modelos de linguagem ganharam poderes inesperados ao crescerem, as redes de agentes estão gerando uma nova camada de inteligência emergente que irá redefinir a automação corporativa.

O mercado de tecnologia parece finalmente ter se alinhado em torno de um consenso: os “agentes de IA” são a evolução natural do prompt. Mas aqui está o problema – enquanto você ainda está testando se o ChatGPT consegue escrever um e-mail decente, empresas líderes já orquestram redes de 5-10 agentes trabalhando em paralelo. Essa já é a discussão de ontem.

A verdadeira fronteira competitiva está na próxima pergunta: “O que acontece quando os agentes começam a conversar entre si?”.  A resposta definirá os próximos anos da tecnologia corporativa e tem nome: Redes de Agentes Inteligentes (RAIs).

O Salto Quântico: De Prompts a Agentes

Andrew Ng, fundador da DeepLearning.ai, em uma apresentação na Sequoia Capital, usou uma analogia perfeita para mostrar por que a maioria das pessoas ainda está fazendo IA errado: “É como pedir para alguém escrever uma redação do começo ao fim sem jamais usar a tecla backspace”.

Um fluxo de trabalho agêntico é completamente diferente. A IA pode planejar, pesquisar, escrever um rascunho, ler sua própria criação, criticá-la e revisá-la de forma autônoma. Essa capacidade de “reflexão” é tão transformadora que um GPT-3.5 (geração anterior) usando um fluxo agêntico supera o desempenho de um GPT-4 (geração atual) usando um prompt direto. O processo de raciocínio orquestrado é mais importante que a força bruta do modelo.

Quer saber como será a qualidade das respostas do GPT-5? É só criar um fluxo agêntico com o GPT-4.5 atual!

A Nova Emergência: Quando Agentes se Tornam uma Orquestra

Se um único agente refletindo sobre seu próprio trabalho já é poderoso, imagine múltiplos agentes especializados debatendo uma solução. É como a diferença entre ter um funcionário brilhante e ter uma equipe de especialistas que se complementam – o resultado é exponencialmente melhor.

Essa é a segunda onda de emergência que estamos testemunhando. Não nasce do tamanho de um modelo isolado, mas da colaboração em rede. Um agente “programador” escreve código enquanto um agente “crítico” o revisa. Um agente analisa dados financeiros enquanto outro valida as premissas de mercado. É a crítica da crítica, a colaboração entre expertises distintas, que gera o valor exponencial.

Testei isso no início de 2024 criando um conselho de administração com agentes de IA, cada um treinado nos trabalhos de grandes pensadores. Quando o agente “Michael Porter” critica a sugestão do agente “Gary Vaynerchuk” sobre estratégia, o nível de profundidade gerado supera em ordem de magnitude qualquer interação isolada (mesmo com o uso de GPTs ou até Fine-Tuning).

Da Teoria à Prática: A IA Corporativa Invisível

Essa revolução não é teórica. As RAIs já são a parte submersa e massiva do iceberg da IA, enquanto o público geral ainda observa apenas a ponta visível.

Vou te dar um exemplo real de um frigorífico brasileiro com planta 4.0. Sensores de IoT geram uma avalanche de dados que nenhum time humano conseguiria analisar em tempo real. A solução? Cada máquina possui seu próprio agente especialista, treinado com o manual técnico daquele equipamento específico. Esses agentes monitoram a performance continuamente e, ao identificar uma anomalia, um orquestrador (construído com o framework CrewAI, do brasileiro João Moura) envia alerta direto para o WhatsApp do supervisor. É automação de comportamento inteligente aplicada ao chão de fábrica.

Onde a Inteligência Humana se Torna Indispensável

Nesse novo paradigma, não somos operadores de ferramentas, mas arquitetos de redes de inteligência. Nossa função mais valiosa se concentra em três áreas críticas: decompor problemas complexos em tarefas que agentes especializados possam resolver, fazer a pergunta certa que guiará toda a rede, e ser o validador final que garante qualidade e relevância no mundo real.

Como descobri ao escrever meu livro com uma rede de 37 agentes, não adianta gerar conteúdo se, na leitura final, o resultado não tem alma ou substância. O selo de qualidade ainda é fundamentalmente humano.

A vantagem competitiva na Era da IA não virá de ter o melhor agente individual, mas de desenhar o sistema de colaboração mais eficaz entre inteligências humanas e artificiais. A pergunta para todo líder de tecnologia mudou: não é mais “qual IA vamos usar?”, mas sim “qual rede inteligente vamos construir?”.

Porque enquanto você ainda está tentando descobrir se pode ou não liberar o ChatGPT para a equipe, seus concorrentes já estão construindo vantagens competitivas sustentáveis com redes inteiras trabalhando 24/7.

*Por Kenneth Corrêa, Professor de MBA na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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