Um novo tipo de coach assola a Internet: o coach de como criar mulheres digitais com uso de inteligência artificial, ganhando dinheiro fácil vendendo contéudo erótico personalizado.
O site G1 fez uma pesquisa e encontrou em redes sociais diversos coachs digitais vendendo cursos que afirmam gerar lucro de até R$ 500 por dia, a partir do uso das chamadas “IAs do job”, uma referência a garotas de programa virtuais.
Com preços que variam de R$ 30 a R$ 48, os cursos ensinam por exemplo, como criar deep fakes, uma técnica que altera vídeos ou fotos com IA, com base em imagens de mulheres reais retiradas da Internet.
Outros cursos indicam sites de edição que permitem criar modelos nuas, que simulam até cenas de sexo, além de darem dicas sobre o estereótipo da IA do job ideal.
O perfil das mulheres geradas costuma seguir um padrão: geralmente brancas, com corpos considerados dentro de um ideal de beleza e, de preferência, com aparência europeia. “Se pegarem uma modelo do Brasil, pode dar problema”, afirma Thiago do Hot, “professor” em um de seus vídeos.
Interessados que compraram os cursos afirmam que o conteúdo e os lucros propagados pelos coachs do sexo virtual são tão verdadeiros quanto as modelos criadas por eles.
Segundo apurado pelo G1, muitos “alunos” afirmam que os conteúdos são na verdade “enrolação”.
Um exemplo típico é o curso do Gui do Hot, um dos mais populares desse nicho, vendido por R$ 47,90.
O material, intitulado “Cafetão Digital, do zero ao avançado”, contém quatro vídeos com menos de 10 minutos cada, um arquivo em PDF e algumas frases existenciais.
Já o conteúdo do Thiago do Hot, que custa R$ 39,90, é mais direto ao que se propõe. Ele entrega um vídeo de nove minutos com recomendações de como baixar vídeos de mulheres no Instagram e como criar um clone, sem mencionar que se trata de um ato ilegal.
Pessoas que decidiram se aventurar no ramo afirmam que o lucro prometido está longe de ser factível. Duas mulheres entrevistadas pelo G1 disseram que trabalham corretamente com as IAs do job, mas sem alcançar o lucro esperado.
Elaine Pasdiora, criadora de conteúdo digital, disse que está com seu avatar criado desde o começo do ano e que faturou R$ 651 no site brasileiro LinkPriv, além de US$ 338 (cerca de R$ 2 mil) no site Uncove.
Elisabete Alves, designer gráfica e profissional de TI, afirmou que sua garota do job possui uma assinatura de US$ 7 por mês, algo em torno de R$ 40, muito distante dos R$ 100 ou R$ 500 prometidos pelo cafetão digital Gui do Hot.
Muitos desses materiais já estão disponíveis em plataformas como OnlyFans, Privacy e Fanvue. Já os cursos foram disponibilizados em sites como Cakto e Kirvano.
O OnlyFans informou à reportagem do G1 que conteúdos eróticos com IA só podem ser postados na plataforma se os usuários forem avisados.
O Cakto, que hospedava os conteúdos de Thiago do Hot, aquele que ensina o uso de deepfake, afirmou que o material infringiu as normas da plataforma. Por isso, foi removido e o usuário, bloqueado.
A Kirvano, que já teve seu fundador, Ruyter Poubel, como alvo de investigação da Polícia Civil de São Paulo por vender cursos sobre como faturar com o jogo do tigrinho, declarou que não compactua com essa prática e que, se for detectado algo irregular, os conteúdos são removidos.