Vivemos a era do ghostworking

Vivemos uma crise global no mundo do trabalho. Estamos ocupados, cansados, sobrecarregados, mas pouco engajados e encontrando pouco sentido (ou nenhum) do trabalho, em nossas vidas. Trabalhamos para sobreviver, pagar nossas contas, entretanto pouco motivados e felizes, tentando conciliar uma vida de obrigações vazias com momentos de alegria. Mas será que dá para ser feliz assim? Vivendo como zumbis, em um mundo inseguro e instável, que já é por si só um ofensor em nossa saúde mental?

De acordo com o Relatório de Inovação no Trabalho de 2024 da Asana, 65% dos profissionais estão realizando tarefas apenas para parecer ocupados. O que antes era o famoso presenteísmo, no qual o profissional estava presente (fisicamente ou virtualmente), mas mentalmente distante, agora passa a ser o ghostworking, que além de não estar engajado, o profissional ainda está fingindo produtividade e enganando a liderança de forma intencional. Ou seja, o profissional não está engajado, mas finge estar produzindo enquanto ativamente atualizam currículos (24%), se candidatam (23%), respondem recrutadores (20%) e até saem para entrevistas (19%), segundo pesquisa da LCONT.

 Será que não está na hora de ressignificarmos o trabalho em nossas vidas?

Atuamos da mesma forma pós segunda revolução industrial em um novo mundo completamente diferente, com evolução da IA, novas tecnologias, aumento do trabalho de conhecimento, dentro de uma sobrecarga de informações e desafios.

Estamos passando por uma revolução e ao invés de abraçarmos as mudanças, tentamos voltar ao conhecido: voltar 100% ao trabalho presencial, voltar à modelos de gestão ultrapassados de medo, comando e controle, atuarmos de forma workaholic, retrocedermos em pautas de DEI, mantermos o privilégio e tudo como sempre foi. No curto prazo talvez funcione. Mas certamente não é um modelo sustentável. É preciso redesenharmos e contruirmos um futuro do trabalho mais humano, com pessoas no centro, evoluindo com a IA e outras tecnologias, através de relacionamentos de confiança, de humanização, com o ser humano no centro dos negócios.

Até quando vamos viver com o ghostworking, com o profissional fingindo estar em reuniões importantes, digitando qualquer coisa, mantendo planilhas abertas, andando de um lado para o outro com seu ipad, fazendo seu teatro corporativo, e o líder fingindo acreditar, pois no fundo a métrica ainda é o presenteísmo, a disponibilidade do profissional em estar lá “presente”. 

Será que não está na hora de deixarmos o modelo ruir, revisar tudo o que sabemos sobre trabalho, para reconstruirmos um novo modelo? Rever o que é produtividade, revisarmos as métricas, entendermos que entregas e resultados no final são mais importantes que horas trabalhadas?

Não dá para ser feliz fingindo produtividade como uma vingança para um modelo de trabalho que não acreditamos. O trabalho pode inclusive ser parte de uma felicidade sustentável, pode nos trazer realizações e significado. Mas para isso será preciso termos conversas difíceis, maduras, falarmos de direitos e deveres e co-criarmos novos caminhos. Não será do dia para a noite e nem tão simples, mas é preciso testar, ousar e reconstruir. A dor já chegou e não está bom para os profissionais, para a nossa sociedade e tampouco para as empresas. O futuro que queremos precisa começar a ser construído agora. 

Você está se preparando para essas mudanças?

*Por Renata Rivetti, fundadora da Reconnect.

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