O debate sobre o papel das tecnologias limpas na construção de um futuro sustentável reuniu três especialistas ligados ao IEEE: Teresa Cristina de Carvalho, professora da Escola Politécnica da USP; Otavio Chase, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA); e Vanessa Schramm, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Cada um trouxe perspectivas complementares sobre como ciência e inovação podem reduzir desigualdades, preservar recursos e ampliar o desenvolvimento econômico.
Teresa Cristina de Carvalho apresentou projetos que unem preservação da floresta e tecnologia de ponta. Segundo ela, o programa Amazônia 4.0 busca instrumentalizar cadeias de produção sustentáveis com recursos da Indústria 4.0, promovendo rastreabilidade via IoT e QR Code e a distribuição equitativa dos benefícios para comunidades locais.
Entre os exemplos, Teresa citou o projeto da cadeia do cacau e do cupuaçu, que utiliza estruturas geodésicas movidas a energia solar no Pará para capacitar indígenas e quilombolas na produção de chocolates de alto valor agregado no meio da flroesta.
Outro destaque é o Biobanco Amazônia, que adota blockchain para registrar o DNA das plantas, assegurando rastreabilidade e combate à biopirataria, além de permitir comercialização por meio da Ecocoin.
Ela também destacou outro o projeto, o do Pirarucu, financiado por bancos estrangeiros, utiliza drones para monitorar a pesca ilegal e proteger a espécie. “O grande objetivo é fomentar a economia local, reduzir o desmatamento e valorizar os saberes tradicionais com apoio da tecnologia”, afirmou Teresa.
Energia sustentável e o impacto dos data centers de IA
Otavio Chase trouxe números da transição energética brasileira. Segundo ele, até 2026, a energia limpa representará 25% da matriz elétrica, alcançando 65 mil MW.
Mas um desafio se aproxima: a chegada dos primeiros data centers de inteligência artificial no Brasil, previstos para São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Minas Gerais. “Essas estruturas podem consumir mais de 9.400 MW, o equivalente a uma hidrelétrica como Tucuruí, ou à energia de 16 mil casas”, alertou.
Apesar da preocupação, Chase vê oportunidade: “Esses data centers podem aumentar o PIB do Brasil, desde que conectados a fontes renováveis e a sistemas de armazenamento”.
Nesse sentido, ele destacou o papel das baterias BESS (Battery Energy Storage Systems), que permitem armazenar energia solar e eólica para uso nos picos de consumo. A expansão do modelo pode elevar a participação da energia solar a 25% da demanda elétrica nacional, com impacto positivo de 1,5% no PIB até 2030.
Megatendências e cidades sustentáveis
Vanessa Schramm destacou os desafios da urbanização. Ela lembrou que, até 2050, cerca de 70% da população mundial viverá em cidades, o que exigirá planejamento sustentável e digitalização inteligente.
“Não é apenas uma questão de energia, mas de como as cidades vão se organizar para atender milhões de pessoas sem colapsar”, afirmou.
A professora defende soluções como mobilidade inteligente, gestão de resíduos com IoT, monitoramento climático e governança digital participativa. Para ela, a transformação digital precisa ser um instrumento de inclusão: “A tecnologia deve ser usada para reduzir desigualdades e otimizar recursos, principalmente nos grandes centros urbanos”.
Um futuro integrado entre tecnologia e sustentabilidade
Apesar de partirem de áreas distintas, os três especialistas convergem em um ponto: o futuro sustentável do Brasil dependerá da aliança entre ciência, inovação tecnológica e inclusão social.
Projetos como os relatados por Teresa Cristina, os avanços energéticos apresentados por Chase e a visão de cidades sustentáveis defendida por Schramm mostram que as tecnologias limpas não são apenas tendência, mas necessidade urgente.