CISOs da família: o desafio de educar e proteger filhos na era digital

Vivemos em um tempo em que crianças aprendem a deslizar telas antes mesmo de aprenderem a falar. Tablets, celulares e assistentes virtuais estão presentes nas mesas de jantar, nos quartos e até nas mochilas escolares. A conectividade tornou-se tão natural quanto respirar e, justamente por isso, tão invisível quanto perigosa. É nesse contexto que os pais enfrentam um novo desafio: além de educar seus filhos, também precisam aprender a proteger a vida digital da família.

Podemos fazer aqui uma analogia entre o mundo corporativo e o ambiente familiar. Nas empresas, políticas de segurança se sustentam sobre três pilares: pessoas, processos e tecnologia. Em casa, o princípio deveria ser o mesmo.
As pessoas são os membros da família: pais, mães, filhos e até visitantes. Os processos são as regras: horários de uso de telas, limites de tempo, comportamentos seguros online, privacidade nas redes sociais. Já a tecnologia representa as ferramentas que tornam o lar digital mais protegido: controles parentais, antivírus, filtros de conteúdo, Wi-Fi seguro, atualização constante de senhas, autenticação com duplo fator e configurações de privacidade em dispositivos e plataformas.

Assim como uma companhia não pode depender apenas de firewalls e senhas fortes, uma casa conectada também não pode confiar unicamente em aplicativos de bloqueio. A segurança começa pela conscientização e pela confiança. As crianças dominam a tecnologia com naturalidade e, muitas vezes, descobrem como contornar restrições antes mesmo de os pais entenderem como ativá-las. Por isso, o diálogo é o primeiro e mais importante mecanismo de defesa. Ensinar o que é certo e errado no ambiente digital é mais eficaz do que tentar vigiar cada clique.

Mas o desafio é também de comportamento. Muitos pais, pressionados pela rotina, recorrem a telas para entreter os filhos. O tablet no restaurante virou uma febre. A reeducação tem que partir dos adultos, porque se eles não conseguem largar o celular nem na hora das refeições, que exemplo passam aos pequenos? Em segurança da informação, seja nas empresas ou em casa, o exemplo sempre deve vir do topo.

Há ainda um aspecto emocional e ético. As ameaças que rondam as crianças hoje vão muito além de vírus ou golpes financeiros. Há riscos de cyberbullying, manipulação emocional, vazamento de dados e até abusos virtuais. O perigo deixou de estar “lá fora”, e agora, cabe no bolso, vibra nas notificações e entra nos quartos sem pedir licença. O papel dos pais, portanto, é o de verdadeiros CISOs das famílias, gestores de segurança que protegem, orientam e preparam seus filhos para navegar com autonomia e senso crítico.

Isso inclui também ensinar sobre as novas tecnologias, como a inteligência artificial generativa, que ainda está em aprendizado e pode errar. Saber distinguir fatos de opiniões e verificar fontes são competências que devem ser ensinadas desde cedo, assim como se ensina a atravessar a rua olhando para os dois lados.

No fim, o paralelo entre o ambiente corporativo e o doméstico não é apenas técnico, mas humano. Nas empresas, a segurança é uma cultura que se constrói com educação contínua. Nos lares, não é diferente. Pais e mães que se informam, dialogam e definem regras claras não estão apenas protegendo dados, mas formando cidadãos digitais conscientes. E, tal como nas organizações mais bem estruturadas, a missão é permanente: aprender, adaptar e proteger.

Por Alexandre Murakami, Diretor de Vendas de Cibersegurança da Logicalis

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