O avanço dos golpes digitais no Brasil já provoca um impacto econômico de grandes proporções, com perdas diretas e indiretas que chegam a patamares equivalentes a porcentagens significativas do PIB nacional. A avaliação, apresentada por Luana Tavares, fundadora do Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC) durante o Telium Secday, expôs números que ajudam a dimensionar o tamanho do prejuízo e os riscos associados à falta de defesa aos ataques.
Embora o país figure entre aqueles considerados mais avançados em políticas e estruturas formais de cibersegurança, a prática mostra uma realidade distinta: o Brasil é hoje um dos territórios mais atacados do mundo, com efeitos que vão além de fraudes financeiras e atingem setores essenciais, como saúde e serviços públicos.
Uma das referências mais contundentes veio de um estudo global da Global Anti-Scam Alliance (GASA), citada no evento, mostrando que a soma das perdas de vítimas de golpes representa 2,5% do PIB mundial, equivalentes a 54 bilhões de dólares apenas em 2024. A estatística ganha mais relevância quando comparada com o levantamento do INCC, que afirma que os efeitos de violações de dados já geram um impacto equivalente a 18% do PIB nacional.
Apesar do volume crescente de ataques, o orçamento destinado pelo Brasil à segurança cibernética ainda é precário comparado a outras nações. A apresentação destacou que o país investe 49 vezes menos que os Estados Unidos, já com o valor corrigido considerando a diferença de tamanho das economias.
Um dos pontos de debate atualmente é o custo estimado para manter uma estrutura nacional robusta de proteção cibernética, incluindo a criação de uma Agência Nacional de Segurança Cibernética. O valor discutido gira em torno de R$ 600 milhões anuais. “Cinco ataques que tivemos ao setor financeiro tiraram 2 bilhões da nossa economia”, compara Tavares sobre o custo.
Subnotificação e mudança no perfil do crime
A falta de registro adequado agrava a distorção dos dados. Segundo a apresentação, vítimas de crimes digitais não denunciam majoritariamente por dois motivos: a percepção de que “não vai dar em nada” e a dificuldade de saber onde ou como reportar o caso.
O cenário coincide com uma mudança de comportamento observada no país. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que o estelionato eletrônico cresceu 408%, enquanto as modalidades físicas de roubo caíram 51% no mesmo período. A migração do crime organizado para o ambiente digital amplia a escalabilidade dos ataques e aumenta a complexidade das respostas.


