Pressão sobre marketplaces reduz venda de celular pirata pela metade

A participação dos celulares piratas no mercado brasileiro voltou a cair em 2025 e se tornou o principal ponto de destaque no balanço divulgado nesta quinta, 4/12, pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica. O volume de smartphones irregulares deve recuar para 4,5 milhões de unidades, o equivalente a 12% do total, uma queda de sete pontos percentuais em relação a 2024, quando o índice era de 19%. Em 2023, os celulares piratas chegaram a representar 25% das vendas no país

Apesar do avanço, a Abinee afirma que o resultado ainda está longe do ideal. “Foi um bom resultado, mas não estamos satisfeitos. O aceitável é que seja zero”, afirmou Luis Claudio Carneiro, vice-presidente da entidade e diretor setorial de dispositivos móveis.

De acordo com Carneiro, a queda é fruto da articulação entre diversos agentes, notadamente Anatel, Senacon do Ministério da Justiça, Polícia Federal, Receita Federal e secretarias estaduais de Fazenda, com foco especial nos marketplaces. “Esses órgãos têm trabalhado em conjunto, aumentando a fiscalização e pressionando as plataformas a derrubarem anúncios de telefones irregulares. Isso também levou o consumidor a ficar mais esperto”, afirmou.

A pressão regulatória se materializou com instrumentos como a Resolução 780 da Anatel, que reforça a responsabilidade fiscalizatória da agência no ambiente online, e uma nova portaria do Inmetro, que cria a delegacia cibernética voltada ao combate às irregularidades em plataformas digitais. No Congresso, projetos de lei que tratam da responsabilidade solidária dos marketplaces sobre produtos ilegais também têm avançado.

Mesmo assim, ainda há resistência. Carneiro aponta que algumas plataformas, em especial Amazon e Mercado Livre, têm judicializado medidas impostas pela Anatel e mesmo da Receita Federal. “Os marketplaces fazem parte do processo, recebem comissão pela venda. Não tem como dizerem que não são responsáveis”, disse.

Ele destacou que retirada de anúncios pode ser rápida quando há interesse. “Na crise do etanol, em menos de 48 horas eles retiraram praticamente todos os anúncios de garrafas e selos falsos. Mas uma garrafa custa R$ 5, um selo, R$ 0,10. Já um celular custa R$ 2 mil. Então há um fator econômico muito forte.”

A Xiaomi continua sendo a marca mais presente no mercado pirata, embora tenha perdido espaço para a realme, que cresce com operações de importação via Paraguai e posterior contrabando para o Brasil, muitas vezes distribuídas por meio de marketplaces.

Apesar da queda no volume, o faturamento do mercado irregular não diminuiu na mesma proporção, impulsionado pelo aumento do preço médio dos aparelhos ilegais, que passou de cerca de R$ 1 mil para até R$ 2,5 mil. Consumidores de produtos irregulares, assim como no mercado formal, passaram a buscar modelos mais avançados.

No balanço geral da indústria, a Abinee projeta que o setor eletroeletrônico deverá faturar R$ 270,8 bilhões em 2025, alta de 8% sobre 2024. Descontada a inflação medida pelo IPP (4,5%), o crescimento real deve ficar em 4%.

O aumento, porém, é influenciado pela busca por produtos mais sofisticados, tanto em informática quanto em telefonia, o que elevou preços e, consequentemente, a receita. Na produção física, o movimento é inverso: os dados agregados do IBGE indicam uma queda de 1,4% na indústria eletroeletrônica em 2025.

As maiores altas reais de faturamento foram registradas em componentes elétricos e eletrônicos (+5%), bens de informática (+9%) e telefones celulares (+9%).

O mercado formal de celulares deve fechar 2025 com 32,4 milhões de unidades vendidas, uma queda de 3% em relação ao ano anterior. Do total, 31,8 milhões serão smartphones e 577 mil, aparelhos tradicionais. A demanda, porém, está concentrada em modelos com mais recursos e desempenho superior.

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