Em uma transação que promete alterar profundamente o mapa global do entretenimento, a Netflix anunciou nesta sexta, 5/12, um acordo de US$ 82,7 bilhões (R$ 440 bilhões) para adquirir a Warner Bros., incluindo os estúdios de cinema e TV, a HBO e o serviço HBO Max. O negócio, aprovado pelos conselhos das duas companhias, deve ser concluído entre 12 e 18 meses após a cisão da divisão de TV Discovery Global, prevista para o terceiro trimestre de 2026.
A aquisição envolve US$ 72 bilhões para a compra além de outros US$ 10 bilhões em dívidas da WB assumidas pela Netflix, encerra uma disputa acirrada da empresa com a Paramount Skydance e a Comcast. A plataforma de streaming entrou em negociações exclusivas com a Warner Bros. Discovery (WBD), consolidando sua vitória no processo competitivo.
A Netflix afirmou que pretende manter a operação atual da Warner Bros., inclusive os lançamentos cinematográficos programados até 2029. No curto prazo, HBO Max continuará existindo como serviço independente, ao mesmo tempo em que seu catálogo, assim como o da HBO, será incorporado à oferta da plataforma global de streaming.
“Com a adição do vasto acervo de filmes e séries da Warner Bros., além de produções da HBO e HBO Max, nossos assinantes terão ainda mais opções de conteúdo de alta qualidade”, disse a empresa. A Netflix estima economizar entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões por ano até o terceiro ano após a conclusão da transação, que deve se tornar lucrativa para a companhia já no segundo ano.
Cada acionista da WBD receberá US$ 23,25 em dinheiro e US$ 4,50 em ações da Netflix por papel detido. Caso o acordo seja barrado por reguladores dos EUA ou de outros países, a Netflix terá de pagar uma multa de US$ 5,8 bilhões.
Entre os fatores de risco, especialistas apontam possíveis entraves antitruste, sobretudo nos Estados Unidos. Em novembro, o deputado republicano Darrell Issa enviou carta ao governo Trump alegando que a Netflix, com mais de 300 milhões de assinantes globais e um vasto portfólio, possuiria “poder de mercado sem precedentes”.
A compra provocou preocupação em sindicatos e entidades do cinema, como a Directors Guild of America e a associação de exibidores Cinema United, que temem impactos negativos sobre o mercado de salas de exibição. Os estúdios da Warner Bros. são historicamente um dos pilares da produção teatral americana.
A Netflix, porém, argumenta que a fusão fortalecerá a indústria. “A ampliação da capacidade de produção e o aumento dos investimentos em conteúdo original criarão empregos e novas oportunidades para o setor”, afirmou a companhia.
Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, disse que a união representa a chance de “definir o próximo século da narrativa audiovisual”. Greg Peters, também co-CEO, destacou que a Warner Bros. “ajudou a definir o entretenimento por mais de cem anos” e que, somada ao alcance global da Netflix, permitirá “levar seus mundos e histórias a públicos ainda maiores”.
David Zaslav, CEO da WBD, afirmou que o acordo reúne “duas das maiores empresas de storytelling do mundo”. O comunicado, no entanto, não esclarece qual será o papel de Zaslav após a conclusão da venda.
O acordo ocorre no contexto da reestruturação anunciada pela Warner Bros. Discovery em 2025, que prevê a separação de seus negócios de estúdios/streaming (Warner Bros.) e redes de TV (Discovery Global) em duas empresas distintas. A divisão Discovery Global, que incluirá CNN, TNT Sports, canais Discovery e os serviços Discovery+ e Bleacher Report, será comandada pelo atual CFO Gunnar Wiedenfels.
O anúncio marca uma reviravolta histórica. Quase 15 anos depois de o então CEO da Time Warner, Jeff Bewkes, ironizar a Netflix ao compará-la ao “exército albanês”, insinuando que ela jamais teria força para dominar o setor.
Hoje, a plataforma que começou como um serviço de DVDs por correio assume o controle de um dos mais tradicionais estúdios de Hollywood e de uma das marcas mais prestigiadas da TV mundial, redesenhando o futuro do audiovisual.
