A inteligência é artificial, mas as escolhas são humanas

Nos últimos anos, a inteligência artificial deixou de ser tema apenas de filmes de ficção para tornar-se parte do dia a dia de empresas e pessoas. Ela está nas sugestões de filmes que assistimos, nas ferramentas que utilizamos no trabalho e, cada vez mais, nas decisões que impactam negócios e a vida das pessoas. Só que, apesar de toda essa popularidade, existe uma ideia que precisa ser desmistificada: a IA, sozinha, não resolve nada.

Por mais avançada que pareça, a IA é, no fundo, um grande sistema capaz de reconhecer padrões nos dados que recebe. Ela aprende olhando para o passado, encontrando repetições e probabilidades. Mas ela não entende, por conta própria, o que é certo, errado, desejável ou relevante. Sem regras claras, processos bem definidos e alinhamento com os objetivos do negócio, a IA pode até gerar respostas – mas nem sempre são as respostas certas. É como dirigir um carro super potente, mas sem volante, sem GPS e sem nenhum mapa. Você anda, mas não necessariamente na direção certa.

Por isso, quando falamos que IA precisa de lógica, segurança e contexto, estamos falando sobre algo muito simples, porém essencial: quem dá sentido, direção e limites para a IA são as pessoas, não somente os algoritmos. A preocupação hoje não é mais se o modelo vai “alucinar” — isso já é sabido e, em grande parte, controlável. O verdadeiro desafio está no refinamento: usar a IA em tarefas críticas, onde o erro não é grosseiro, mas sutil.

Pense, por exemplo, em uma análise de crédito feita por um banco. O sistema pode até identificar padrões e perfis de risco com precisão, mas quem define quais riscos o banco está disposto a assumir, quais taxas oferecer ou quando uma análise precisa ser revista são os profissionais da instituição, não o algoritmo sozinho. Sem esse direcionamento, a IA pode tomar decisões matematicamente coerentes, mas desalinhadas com a realidade financeira, estratégica ou regulatória.

Ou considere uma tarefa ainda mais sensível: comparar versões diferentes de contratos estratégicos ou documentos jurídicos. Mudanças mínimas em uma cláusula podem ter implicações enormes — e muitas vezes passam despercebidas por uma leitura apressada. Uma IA bem treinada e aplicada no contexto certo é capaz de identificar essas nuances e entregar valor onde outras soluções simplesmente falhariam.

No fim, trata-se de combinar o melhor da tecnologia com o julgamento humano. A IA não substitui decisões — ela amplia nossa capacidade de tomá-las com mais precisão, velocidade e segurança.

É por isso que dizer que IA precisa de contexto, segurança e lógica não é exagero. É cuidado. É responsabilidade. E esse cuidado começa em como ela é construída e aplicada. Por trás de qualquer IA que realmente gere valor existe uma base sólida: dados organizados, processos bem mapeados, regras claras, supervisão constante e, acima de tudo, participação ativa de pessoas.

Existe um exemplo que mostra como a IA funciona na prática — mesmo em contextos complexos e de alto risco. Um dos maiores escritórios de advocacia do país, com milhares de advogados atuando em litígios massivos para bancos, enfrentava o desafio de revisar mais de 60 mil processos acumulados, cada um com dezenas de páginas. A solução veio da combinação entre IA e inteligência humana, usada para analisar automaticamente as reivindicações contratuais, identificar discrepâncias e calcular com precisão os danos materiais devidos. Mas o verdadeiro diferencial não foi apenas o algoritmo, e sim a integração com o fluxo jurídico existente, as regras contratuais e a supervisão de especialistas. O resultado? A organização economizou R$84 milhões ao evitar pedidos inflacionados, reduziu R$5 milhões em honorários e acelerou a revisão de contratos de meses para dias. Ou seja, tecnologia, sim — mas com lógica, contexto e responsabilidade.

Ainda assim, é comum que o mercado trate a IA como uma solução mágica. Isso acontece, muitas vezes, por conta de demonstrações simplificadas, que não mostram os bastidores, e também pela falsa ideia de que a IA funciona como um “cérebro” capaz de entender tudo sozinho – o que está longe da realidade. A IA não pensa. Ela reconhece padrões e faz cálculos baseados em dados. E, para que gere valor de verdade, precisa ser direcionada, ajustada e acompanhada de perto.

Automatizar não significa abrir mão da responsabilidade. A IA faz muito sentido em tarefas operacionais, repetitivas e também em atividades críticas — de todos os níveis de risco — desde que você queira garantir que funcionem com eficiência e precisão. Mas quando se trata de decisões que afetam pessoas, dinheiro ou reputações, a supervisão humana continua sendo indispensável para garantir segurança, coerência e responsabilidade.

No fim, a mensagem é clara: IA, sozinha, não resolve nada. Mas quando anda junto com a lógica, segurança e contexto, ela se torna uma das ferramentas mais poderosas para gerar valor, eficiência e transformação nos negócios e na sociedade.

*Por Rodrigo Bobrow, CEO do Tela.

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