A Cloudflare, uma das maiores plataformas globais de segurança, desempenho e conectividade da internet, está intensificando sua presença e investimentos no Brasil para conter o aumento explosivo de ataques cibernéticos no país. Segundo Carlos Torales, vice-presidente para a América Latina da Cloudflare, o Brasil é hoje o segundo país mais atacado do mundo, atrás apenas da China, e o primeiro da América Latina.
“Todos os dias, bloqueamos cerca de 190 bilhões de ataques maliciosos globalmente, sendo 780 milhões apenas no Brasil. Isso mostra o tamanho do desafio e a importância do mercado brasileiro em nossa estratégia global”, afirma Torales
O executivo explica que a empresa está investindo fortemente em três pilares principais: infraestrutura, equipe local e parcerias estratégicas. Atualmente, a Cloudflare possui presença em 32 cidades brasileiras, com data centers próprios em cada uma delas, incluindo múltiplas unidades como no caso de São Paulo, devido ao alto volume de tráfego. “Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o país com maior cobertura da Cloudflare no mundo”, ressalta.
Além da infraestrutura, a empresa tem fortalecido seu time dedicado ao mercado brasileiro, composto por mais de 30 profissionais que atendem clientes de setores como financeiro, seguros e fintechs — segmentos que estão entre os mais visados por cibercriminosos. “Estamos também ampliando nosso ecossistema de parceiros locais, como Tempest, Tripla, Sec e TD Sinex, para garantir respostas mais rápidas e personalizadas às ameaças regionais”, explica o executivo.
A era da inteligência artificial nos ataques
Torales destaca que a chegada da inteligência artificial (IA) transformou profundamente o cenário da cibersegurança — tanto do lado dos defensores quanto dos atacantes. “A IA está mudando o panorama de forma gigantesca. Hoje, criminosos automatizam ataques globais usando ferramentas de inteligência artificial, explorando vulnerabilidades em bilhões de dispositivos conectados”, comenta.
Um exemplo recente ilustra o poder dessa nova geração de ataques: a Cloudflare conteve, há poucas semanas, o maior ataque de negação de serviço (DDoS) já registrado no mundo, que atingiu 11,2 terabits por segundo. “Foi um ataque massivo, com bilhões de requisições simultâneas. Só conseguimos contê-lo porque nossa plataforma usa machine learning para identificar padrões e reagir em tempo real, bloqueando a ameaça na origem”, explica.
As novas frentes de vulnerabilidad
Apesar do avanço da tecnologia defensiva, o phishing continua sendo o vetor de ataque mais eficiente. “Agora os criminosos utilizam IA para simular a linguagem e o estilo de escrita de executivos, tornando os e-mails falsos praticamente indistinguíveis dos reais”, alerta Torales.
Além do phishing, a Cloudflare monitora outras frentes críticas de ameaça:
Ransomware, que segue crescendo e se dissemina, em grande parte, por e-mails fraudulentos;
Bots baseados em IA, responsáveis por até 30% do tráfego malicioso global e usados para fraudes em sites e aplicações;
Ataques a APIs, que já representam cerca de 50% do tráfego da internet e são explorados devido à interconexão de múltiplos serviços;
Vulnerabilidades em VPNs corporativas, especialmente após a migração massiva para o trabalho remoto.
Para enfrentar esse cenário, a Cloudflare atua em quatro grandes frentes de proteção: aplicações, funcionários, redes e desenvolvimento seguro. As soluções incluem ferramentas de Zero Trust, substituição de VPNs, mitigação de DDoS, proteção contra bots e APIs maliciosas e um ambiente de desenvolvimento seguro para aplicações baseadas em IA, hospedadas na borda da rede.
Democratização da cibersegurança
Um dos diferenciais da Cloudflare é oferecer planos gratuitos para pequenas e médias empresas — e até para profissionais autônomos e jornalistas que mantêm blogs ou sites próprios. “Nossa missão é tornar a internet mais segura para todos. Temos milhões de usuários gratuitos que, ao utilizarem nossos serviços, também nos ajudam a identificar padrões globais de ataque e antecipar ameaças”, explica Torales.
A empresa processa mais de 20% de todo o tráfego global da internet, o que gera uma base massiva de dados de segurança. “Essas informações são essenciais para aprimorar nossas ferramentas de proteção em tempo real e criar regras de segurança proativas antes mesmo de que os ataques aconteçam”, complementa.
Setores sob maior risco
De acordo com o executivo, os setores mais vulneráveis na América Latina são serviços financeiros, telecomunicações, governo, educação e saúde. “Onde há dinheiro ou dados sensíveis, há risco. No caso do Brasil, também observamos um aumento expressivo de ataques a plataformas de apostas esportivas, que cresceram muito nos últimos anos”, afirma.
Torales enfatiza que a pequena e média empresa latino-americana ainda é o elo mais fraco do ecossistema digital. “Há pouca maturidade e investimento em segurança, o que torna essas empresas alvos fáceis. Nosso papel é oferecer soluções acessíveis e escaláveis para proteger também esse segmento.”
Com clientes de peso como Banco do Brasil e Creditas, a Cloudflare reforça seu compromisso com o país. “O Brasil é estratégico. Vamos continuar investindo em infraestrutura, em pessoas e em parcerias para acompanhar o crescimento da economia digital brasileira”, conclui Torales.
A empresa acredita que a cibersegurança é hoje o pilar mais crítico da transformação digital, especialmente num cenário em que a inteligência artificial amplia tanto as oportunidades quanto os riscos. “O futuro da segurança digital será definido por quem conseguir usar a IA de forma mais inteligente — e mais rápida”, finaliza o vice-presidente da Cloudflare para a América Latina.