Os crimes digitais praticados no Brasil tiveram um aumento de 800% nos últimos cinco anos, de 2020 a junho de 2025, com chances de crescer ainda mais até o final deste ano.
Segundo um levantamento realizado pelo site Neofeed a partir da Lei de Acesso à Informação, crimes como estelionato digital, furto mediante fraude eletrônica e invasão de dispositivos são os que mais aumentaram, seguidos por lavagem de dinheiro e sabotagem de serviços.
Quatro estados concentram a maioria das ocorrências: São Paulo (31), Santa Catarina (21), Paraná (17) e Bahia (10).
De acordo com analistas ouvidos pela reportagem, 80% dos crimes cibernéticos praticados no Brasil ocorrem por meio de engenharia social e não por invasão de hackers ou acessos por códigos, embora esses casos também estejam em crescimento.
Um exemplo foi o maior ataque da história do sistema financeiro, ocorrido na C&M Software, onde um funcionário do setor de TI vendeu sua senha por R$ 15 mil.
Com os dados, os hackers usaram a credencial da BMP, um dos clientes da C&M, para acessar o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
Conforme a Polícia Civil, a BMP teve mais de R$ 500 milhões desviados e foi a única das 23 empresas clientes da C&M que reportou o desvio e alertou a companhia sobre as movimentações suspeitas.
Estima-se que mais de R$ 1 bilhão tenham sido desviados de contas de seis instituições financeiras, com valores convertidos em criptomoedas.
Poucos dias depois desse incidente, a Caixa Econômica Federal também sofreu um ataque hacker que afetou sistemas ligados à compensação bancária. O banco suspendeu o acesso VPN de seus funcionários em home office após enfrentar instabilidades.
Golpes por meio de mensagens falsas também cresceram no país. Em 2024, houve um aumento de 267% dessa prática, com uma média de 588 tentativas de ataque por minuto contra brasileiros.
A inteligência artificial também preocupa especialistas, que apontam o uso de vídeos e áudios manipulados para criar armadilhas, além de fotos com simulação de movimentos para abertura de contas em fintechs.
A Kaspersky, empresa de segurança digital, aponta que o Brasil é um dos maiores produtores de trojan bancário, software malicioso que infecta computadores e smartphones para desvio de dinheiro. A companhia registrou um aumento de 87% desse vírus em 2024.
Parte desses trojans brasileiros já é utilizada em escala global. O mais conhecido, denominado “grandoeiro”, foi responsável por 150 mil tentativas de ataques contra correntistas de bancos em 45 países e mais de 276 carteiras digitais.
No Brasil, o trojan foi programado para realizar fraudes em 52 instituições financeiras.