Engemon IT aposta na expansão de data centers para IA no Brasil

A aceleração da inteligência artificial está provocando uma nova revolução na infraestrutura digital. E, no centro dessa transformação, estão os data centers — agora projetados para suportar cargas de trabalho sem precedentes em energia e processamento. Em entrevista à TI Inside, Fábio Câmara, CEO da Engemon IT, explica como a empresa tem se posicionado para atender essa nova demanda, os desafios da construção de data centers voltados para IA, a importância da energia limpa e o papel estratégico do Brasil nesse cenário global.

O executivo enxerga o programa Redata, iniciativa do governo para incentivar a implantação de novos data centers com redução tributária, como um catalisador para atrair investimentos. “É uma grande janela de oportunidade para o Brasil se consolidar como um hub verde de processamento de dados para o mundo.”

Segundo o executivo, um data center para inteligência artificial não pode ser uma adaptação de um modelo tradicional. “A principal diferença está na energia. Um data center de IA consome de seis a dez vezes mais energia para resfriamento do que um convencional”, explica. Além do alto consumo, há uma complexa infraestrutura de engenharia e planejamento que começa anos antes da operação. “A construção de um data center leva de um ano e meio a quatro anos. É preciso pensar na localização, na disponibilidade de energia, na ativação da área e no planejamento de importação de equipamentos, como GPUs da Nvidia e de outros fabricantes.”

O executivo acredita que o país vive uma janela de oportunidade estratégica. “O Brasil pode se consolidar como um dos principais polos de processamento de dados do mundo, aproveitando sua energia limpa e localização geográfica. O mercado imobiliário já está reagindo, com áreas sendo vendidas prontas para receber data centers, com ativação de energia aprovada.”

A infraestrutura energética, segundo Câmara, é o ponto de partida. O Brasil, destaca ele, tem uma vantagem competitiva global nesse aspecto. “Temos uma matriz elétrica com cerca de 98% de energia renovável. Isso é muito atrativo sob a ótica ESG. Além disso, nossa rede elétrica é única, o que garante que a energia gerada, desde a fonte até o consumo no data center, é 100% verde.” Ele ressalta também que os principais cabos submarinos que conectam a América do Sul ao restante do mundo passam pelo território brasileiro, reforçando o país como um hub natural para a América Latina. “Temos cabos que ligam o Brasil à África, à Europa e aos Estados Unidos. E há uma tendência de concentração de data centers em regiões como o Nordeste, especialmente em Fortaleza, onde chegam esses cabos e há forte geração de energia eólica.”

Além da energia, a infraestrutura de hardware é outro desafio. As GPUs de alta performance, produzidas por fabricantes como NVIDIA e Qualcomm, são essenciais para o processamento de IA, mas há filas globais para aquisição. “Esses equipamentos precisam ser encomendados com muita antecedência, dentro do planejamento construtivo. A disponibilidade imediata é rara”, destaca.

Câmara observa que, embora o país tenha um cenário promissor, há gargalos importantes. Um deles é a mão de obra qualificada. “Faltam profissionais experientes, tanto em engenharia quanto em tecnologia. Mas o Brasil é um celeiro de talentos. A operação de um data center hoje é praticamente toda remota, com poucas pessoas fisicamente no local. O grande desafio é a formação de especialistas para projetar, planejar e operar essas estruturas de forma sustentável e eficiente.”

Outro pilar essencial é a cibersegurança. Fábio lembra que a proteção física e lógica precisa ser integrada desde o projeto. “A segurança começa na porta. Existem data centers no Brasil que utilizam autenticação por leitura de íris para entrada nos data halls. Além disso, há camadas de segurança digital muito robustas. O Brasil é reconhecido mundialmente por sua capacidade tanto de detecção quanto de mitigação de ataques cibernéticos”, afirma.

Olhando para os próximos anos, Fábio projeta uma expansão significativa do mercado brasileiro. “Temos 180 data centers de grande porte hoje, enquanto os EUA têm mais de 2.700. Há muito espaço para crescer”, afirma.

Ele também aponta uma tendência de distribuição de pequenos data centers de borda (edge data centers) pelo território nacional, com foco em baixa latência e suporte a aplicações de Internet das Coisas (IoT). “Assim como no mercado de telecom, teremos pequenos centros espalhados por todo o país para garantir respostas mais rápidas às aplicações de IA e IoT.”

Por fim, o executivo faz um alerta aos profissionais de tecnologia: “A IA será o motor dessa nova era, mas ela depende da infraestrutura física para existir. Acompanhar o movimento de construção e expansão dos data centers é essencial, porque é aí que começa o futuro da computação.”

Engemon IT

No ecossistema da Engemon, quatro empresas compõem o grupo, que completa 35 anos em 2025. A Engemon Engenharia é responsável pela construção de grandes data centers, com projetos já entregues para players como Equinix e UOL Diveo. A Engemon Operation Services faz a sustentação de mais de 80 dos 183 data centers hyperscale existentes no Brasil. Já a Engemon IT atua como provedora de tecnologia e serviços gerenciados, e a Engemon Energy, criada há dois anos e meio, foca na geração e armazenamento de energia renovável, especialmente em soluções de baterias de longa duração. “A energia armazenada será um fator decisivo no futuro. A ideia é que residências e empresas possam gerar e guardar sua própria energia, garantindo autossuficiência e estabilidade no consumo.”

Com cerca de 1.700 colaboradores diretos e 2.800 indiretos, o grupo opera em todo o Brasil e tem presença crescente na América Latina, além de operações pontuais nos Estados Unidos e Europa. “Estamos preparados para apoiar investidores e construtores que virão com o programa Redata, que oferece incentivos fiscais para o setor. Nosso papel é viabilizar a engenharia, operação e fornecimento de energia desses projetos”, destaca o CEO.

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