Criminosos estavam recrutando mendigos em São Paulo para fazer eles se passarem por médicos gaúchos, visando burlar controles de biometria facial de bancos e cometer fraudes.
Parece incrível, mas deu certo, segundo revela uma matéria do jornal gaúcho Zero Hora.
O responsável de fazer o “casting” dos sem teto foi preso nesta semana, na segunda fase de uma operação da Polícia Civil do Rio Grande do Sul contra a gangue, que incluiu ações em São Paulo, no Pará e no Espírito Santo.
Na capital paulista, é alvo dos mandados um homem que seria responsável por recrutar pessoas semelhantes às vítimas e utilizar as imagens delas para a produção de documentos falsos.
Segundo a polícia, o grupo também fazia uso de inteligência artificial para alterar as imagens dessas pessoas, para que elas ficassem mais parecidas com os médicos, gerando selfies alteradas que burlavam os controles e documentos falsos.
Em conversas, obtidas pela polícia, os criminosos compartilhavam imagens das vítimas e exigiam “arruma um cara assim”, “acha alguém parecido”. Algum tempo depois, o investigado retornava com fotos de uma pessoa com características semelhantes.
Com isso, os golpistas puderam abrir contas bancárias em nomes das vítimas, passando então a fazer transferências das contas verdadeiras para as contas novas abertas a partir da fraude.
O ataque começava com uma invasão de conta de e-mail das vítimas, com as quais se obtinha acesso a conta gov.br dos médicos, o que permitia ver documentos pessoais, inclusive o imposto de renda.
No Pará foi preso um suspeito que é apontado como responsável por obter informações sigilosas para o grupo. Segundo a investigação, ele usava um bot (robô) de consulta automática em grupos de WhatsApp para vender dossiês de informações pessoais sobre as vítimas.
No Espírito Santo, um terceiro criminoso falsificava documentos e atestados e mantinha uma gráfica clandestina.
A investigaçao começou em janeiro, quando um médico gaúcho procurou a Polícia Civil em Porto Alegre, depois de ser vítima de uma tentativa de golpe. Ele relatou que os golpistas estavam tentando fazer transferências no valor aproximado de R$ 800 mil.
No caso dele, o banco suspeitou das movimentações porque se tratava de uma conta conjunta e os estelionatários enviaram o documento de outra mulher no lugar da identificação da esposa da vítima.
A polícia passou a investigar e descobriu outras quatro vítimas, que passaram pelo mesmo tipo de golpe. Juntos, tiveram cerca de R$ 80 mil de prejuízo.
Os médicos alvos do golpe, segundo a polícia, tinham perfis parecidos: idade superior a 60 anos e usavam o mesmo provedor de e-mail.