Apesar de mais da metade dos usuários de internet no Brasil já terem acesso ao protocolo IPv6 por meio dos provedores, o governo federal e boa parte das administrações estaduais ainda estão atrasados na implantação da tecnologia em seus serviços digitais. O alerta é de Antonio Moreiras, gerente de projetos e desenvolvimento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que vê risco de degradação na qualidade do acesso oferecido à população.
O IPv6 é a versão mais recente do Protocolo de Internet (IP), criado para substituir o IPv4 — tecnologia em operação desde 1983 e que já esgotou sua capacidade de endereços. Para manter o funcionamento da rede, o IPv4 depende hoje de soluções paliativas como o compartilhamento de endereços (NAT e CG-NAT), que comprometem desempenho, resiliência e estabilidade da conexão.
“O IPv6 melhora a experiência de uso e evita os gargalos do IPv4. Grandes empresas como Google, Meta e serviços de streaming implantaram o IPv6 há anos justamente para atender melhor seus usuários”, afirma Antonio Moreiras.
No entanto, exemplos de serviços públicos com IPv6 ainda são raros. O próprio portal Gov.br e o site da Anatel não suportam o protocolo. “Muitos governos estaduais também não têm IPv6. E o problema não é exclusivo do setor público — a maior parte dos bancos e outros serviços online também não oferecem suporte”, observa.
Segundo Moreiras, a adoção do IPv6 pelo governo é essencial para garantir serviços digitais mais rápidos, seguros e acessíveis, especialmente diante do avanço da digitalização de processos. “Temos hoje serviços online que substituem burocracias antigas, mas a infraestrutura por trás precisa acompanhar essa evolução”, diz.
O NIC.br planeja intensificar ações para estimular a migração. Nos dias 16 e 17 do próximo mês, em Brasília, promove um evento voltado aos entes governamentais, o IX Fórum Setor Público, com apresentações de casos de sucesso e debates sobre boas práticas. No dia 18, haverá um curso fechado de IPv6 para servidores públicos no Serpro.
