O Grupo Protege, empresa de segurança privada com presença em todas as regiões do Brasil, investiu cerca de R$ 100 mil para desenvolver internamente um sistema que utiliza inteligência artificial para automatizar a organização das escalas de trabalho.
No total, a companhia conta com mais de 2 mil vigilantes de transporte de valores, geralmente com perfis mais sênior, há mais de 20 anos na empresa. Cada time possui quatro pessoas, sendo um chefe de equipe, um motorista e dois guardas.
O tempo de trabalho depende da norma coletiva, mas a escala mais comum é de oito horas trabalhadas por 48 de folga, de segunda a sexta-feira.
Anteriormente, a montagem desses horários era feita manualmente e demorava até duas horas. Além de ser moroso, o processo gerava custos adicionais com horas extras e riscos de equidade e segurança, pois considerava o desejo de cada colaborador.
“É uma operação de alto risco, sabemos que está suscetível a sinistros. Com a escala manual, tínhamos o risco das pessoas que montam os horários serem cooptadas pela criminalidade e, a partir dali, botarem determinados colaboradores juntos para uma ação criminosa”, explica Luciana Novaes, diretora de operações do Grupo Protege.
No esquema antigo, os gerentes de base subiam em bancos e faziam com o microfone a convocação de cada funcionário. Depois disso, a equipe entrava no fluxo operacional e passava por um sistema de acesso, equipamento de proteção individual (EPI) e saída com o carro-forte.
O projeto de automação das escalas começou em meados de 2023 e foi concluído em dezembro de 2024, totalizando 16 meses de trabalho (com um time de 40 pessoas entre desenvolvedores, analistas, analistas de testes e coordenação, que formam squads).
Nesse período, a empresa desenvolveu uma solução chamada Escala Inteligente, um algoritmo que processa e cruza um grande volume de dados operacionais e jurídicos para gerar as convocações.
Entre as informações consideradas, estão rotas planejadas, jornadas de trabalho, legislação trabalhista e histórico de funcionários, além da regulamentação da Polícia Federal para transportadoras.
Desde que a organização das escalas começou a ser estruturada no Excel, as informações passaram a ser integradas ao sistema de backoffice (no caso do Grupo Protege, o Totvs Datasul). Com base nesses dados, a empresa conseguiu começar a aplicar as inteligências.
“Não foi do dia pra noite. A gente saiu do papel e foi transformando isso em informação digital dentro dos sistemas. Com todas as informações estruturadas, aplicamos o algoritmo e ele começou a tomar essas decisões”, conta Luis Fernando Morse, gerente de sistemas do Grupo Protege.
Agora, a escala é sempre definida no dia anterior e os colaboradores recebem apenas um SMS com o horário que devem chegar na empresa. Até a hora da convocação, eles não sabem com quem e nem para onde vão. A cada dia, a composição dos times é modificada e cada trabalhador vai para uma região diferente.
“O sistema olha para a quantidade de carros que eu preciso para depois falar a quantidade de funcionários. Se acontecer algum problema, ele já entende e faz uma previsão falando ‘se você continuar com essa tendência, teremos um problema jurídico até tal data’. Então, tudo isso já está mapeado e conseguimos tomar a decisão antes do problema acontecer”, detalha Pedro Henrique Andrade, gerente corporativo de logística do Grupo Protege.
Após a implantação da Escala Inteligente, a empresa reduziu o tempo necessário para a formação das equipes em 83%. Dependendo do tamanho da filial, agora ela é feita em menos de um minuto.
“Essa diminuição de tempo não só agiliza as operações diárias, mas também reflete uma melhora substancial na eficiência logística. Além disso, o sistema contribui diretamente para a diminuição do risco de extrapolação de jornada”, destaca Novaes.
A automatização do processo também torna a alocação de equipes mais impessoal e baseada em critérios técnicos, afastando escolhas subjetivas e qualquer tipo de suspeita que possa existir na montagem dos times.
Com isso, as tentativas de sinistros foram reduzidas em 90,91% e a sua efetivação, em 100%.
“Trouxe rastreabilidade, segurança e confiabilidade. Naturalmente, isso reduz sensivelmente custos, traz qualidade de vida para o colaborador e conseguimos ser mais assertivos. E isso é a ponta do iceberg, porque a partir daí o céu é pouco, não tem limite”, avalia Novaes.
Hoje, 80% de toda a tecnologia do Grupo Protege é desenvolvida dentro de casa. Desde o banco de dados até as interfaces.
“No segmento de transporte de valores, não existem muitas empresas que desenvolvam soluções. Então, enxergando essa necessidade, o Grupo Protege investe em uma equipe interna”, conta Morse.
Fundado em 1971, o Grupo Protege tem cerca de 12 mil colaboradores e é formado por quatro empresas: Protege, Provig, Proair e Protege Serviços Especiais.
A companhia atua em serviços de logística, processamento e custódia de valores, serviços aeroportuários, segurança patrimonial e eletrônica, além de formação de profissionais e terceirização de mão de obra para as atividades relacionadas à segurança.