A Microsoft cortou o acesso a serviços na nuvem contratados pela Nayara Energy, uma grande empresa do setor de combustíveis na Índia, no que parece ser uma reação a sanções contra a Rússia determinadas pela União Europeia.
O pacote de sanções da UE, aprovado em 19 de julho, mencionava diretamente uma refinaria da Nayara, a segunda maior da Índia. Alguns dias depois, a Microsoft cortou o acesso dos indianos.
A UE alega que a Nayara processa petróleo russo e que a Rosneft, a estatal de petróleo russa, é dona de 49% do negócio.
O petróleo é uma das principais exportações da Rússia, o que acaba gerando divisas para bancar a guerra contra a Ucrânia. Os Estados Unidos ameaçam com tarifas contra o país todo pelo mesmo motivo.
Depois da sanção, a Microsoft bloqueou o acesso dos funcionários da Nayara às suas contas do Teams e Outlook, deixando a empresa sem e-mail, entre outras coisas.
A Nayara entrou na justiça indiana contra a medida, obtendo uma ordem de restauração do serviço dois dias depois.
Segundo relata a Reuters, a Nayara fechou no final de julho um contrato com a Rediff, uma das pioneiras na internet indiana, dona de portal de notícias, entretenimento e e‑commerce (uma espécie de UOL da Índia, talvez?).
Seja como for, a Rediff não consegue migrar o histórico de emails que está na Microsoft, e o caso segue na justiça.
A Nayara Energy tem uma receita de US$ 18 bilhões anuais e a refinaria em questão é a segunda maior da Índia, com capacidade para 400 mil barris diários, o que é parelho com a Replan, a maior refinaria do Brasil, operada pela Petrobras em Paulínia, no interior de São Paulo.
O problema vai muito além de alguns milhares de emails em uma grande empresa, envolvendo o grau de confiabilidade dos serviços oferecidos pelas gigantes de tecnologia americana.
SOBERANIAS
Os europeus, cujas sanções causaram o bloqueio da Nayara Energy, têm a preocupação de evitar a mesma situação no seu próprio quintal.
Recentemente, dois altos executivos da Microsoft foram chamados para prestar um depoimento para senadores na França.
Falaram na ocasião Anton Carniaux, diretor de assuntos legais e públicos da Microsoft na França, acompanhado pelo diretor técnico para setor público Pierre Lagarde.
O diretor de assuntos legais foi questionado pelos senadores se podia garantir, sob juramento, se ele poderia garantir que a Microsoft nunca entregaria dados de cidadãos franceses para o governo americano sem autorização do governo da França.
“Não”, disse Carniaux. “Eu não posso garantir isso, mas posso dizer que nunca aconteceu antes”.
Como coisas que nunca aconteceram antes tem acontecido cada vez mais, as resposta de Carniaux tem um grande impacto.
Em jogo está o conceito de “soberania de dados”, com o qual multinacionais americanas como a Microsoft vem tentando convencer governos em todo o mundo de que é possível ter um ambiente nas suas nuvens de maneira totalmente independente das autoridades americanas.