A NVIDIA divulgou resultados históricos para o terceiro trimestre fiscal de 2026, encerrado em 26 de outubro, atingindo US$ 57 bilhões em receita — um crescimento de 22% sobre o trimestre anterior e de 62% na comparação anual. O desempenho renovou o debate entre analistas globais sobre a possibilidade de uma bolha especulativa em torno da inteligência artificial, ao mesmo tempo em que reforçou a posição da companhia como o principal motor da corrida global pela computação acelerada.
O CEO Jensen Huang afirmou que “as vendas da plataforma Blackwell dispararam e as GPUs para nuvem estão esgotadas”, destacando que a demanda por computação para treinamento e inferência continua a crescer “de forma exponencial”. Segundo ele, o mercado entrou em um “círculo virtuoso da IA”, impulsionado pelo avanço simultâneo de startups, big techs e criadores de modelos fundamentais.
O segmento de data center, que concentra as GPUs usadas em treinamento e execução de modelos generativos, teve o maior salto da história da empresa, alcançando US$ 51,2 bilhões, com avanços significativos na adoção da arquitetura Blackwell, na expansão de infraestrutura com parceiros como Google Cloud, Microsoft, Oracle e xAI e no fornecimento de novos sistemas para a Anthropic, que iniciará operações com um gigawatt de capacidade baseada em plataformas NVIDIA.
A companhia também anunciou frentes adicionais de atuação, como o Rubin CPX, voltado para processamento de contextos em larga escala, a expansão de parcerias no setor automotivo e a produção das primeiras wafers Blackwell fabricadas em solo americano pela TSMC, no Arizona.
Apesar dos números expressivos, a reação das bolsas internacionais foi marcada por forte volatilidade. Analistas americanos e europeus alertam que o ritmo de crescimento da NVIDIA está “acelerado demais” em comparação com o restante da cadeia tecnológica, reacendendo temores de que o mercado esteja precificando a IA com expectativa acima da capacidade de retorno de curto e médio prazo. A dependência de big techs para sustentação da demanda e os múltiplos elevados da ação reforçaram o sentimento de cautela.
O desempenho também elevou preocupações sobre concentração de mercado: mais de 80% da computação global de IA depende hoje de GPUs NVIDIA, o que torna o setor sensível a qualquer oscilação na capacidade de produção, na oferta de chips ou na mudança de estratégias de players como Google, Amazon e Meta — todas empenhadas no desenvolvimento de chips próprios para reduzir dependência de fornecedores externos.
Além disso, o volume de investimentos em infraestrutura, que já supera centenas de bilhões de dólares globalmente, ainda não encontra equivalente em receita gerada por produtos baseados em IA, o que levou casas de análise a compararem o momento atual a ciclos anteriores de euforia tecnológica, como a bolha das pontocom ou o boom das criptomoedas. Nasdaq e S&P 500 registraram alternância rápida entre altas e quedas após o resultado, enquanto o Stoxx 600 Tech sinalizou preocupação sobre o risco de “hiperotimismo” no setor de semicondutores.
Mesmo sob esse cenário, a demanda segue elevada em diversos segmentos. A receita em visualização profissional alcançou US$ 760 milhões, um crescimento de 26% no trimestre, e o setor automotivo atingiu US$ 592 milhões, impulsionado por parcerias como a anunciada com a Uber, que prevê expansão da rede de mobilidade autônoma a partir de 2027.
Para o quarto trimestre fiscal, a NVIDIA projeta receita de US$ 65 bilhões, com variação de ±2%, mantendo a tendência de aceleração. Nos primeiros nove meses do ano fiscal, a empresa devolveu US$ 37 bilhões aos acionistas por meio de dividendos e recompra de ações, mantendo ainda US$ 62,2 bilhões autorizados para futuras recompras.
Segundo Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da NVIDIA para a América Latina, a adoção de IA continua a crescer na região com velocidade inédita, impulsionada pela demanda por plataformas de computação acelerada. “A infraestrutura de próxima geração será essencial para cada indústria”, afirmou.


