Setor de software teme redução de demanda em inovação com tarifaço dos EUA e pede diálogo

O setor brasileiro de tecnologia e software, embora menos exposto às tarifas de até 50% impostas pelos Estados Unidos, teme uma redução de demanda nos setores que serão diretamente afetados pela medida. A Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) manifestou preocupação com os impactos na economia nacional e a possibilidade de retaliação por parte do governo brasileiro.

O presidente da ABES, Andriei Gutierrez, destaca que a maior preocupação é a saúde financeira dos clientes do setor de tecnologia. “A principal preocupação é afetar setores econômicos que são nossos clientes, e uma segunda preocupação que a gente sempre teve foi com potenciais retaliações do governo brasileiro. Seria muito ruim para o setor produtivo”, afirmou Gutierrez. Ele defende que o caminho ideal é o diálogo e a negociação para evitar “tarifas cruzadas”.

O tarifaço dos EUA trouxe uma série de exceções importantes ao deixar nove dos principais itens de exportação do Brasil de fora da medida. Ainda assim, projeções do Ministério do Desenvolvimento apontam que 45% das vendas para o mercado norte-americano serão afetadas.

É aí a preocupação, como reforçou o conselheiro da ABES, Jorge Sukarie. Além de ser considerado serviço, e portanto não tarifado, o software representa pouco na pauta de exportações brasileiras. “US$ 850 milhões de um mercado de quase US$ 60 bilhões [sendo US$ 31 bilhões em software e serviços], infelizmente é um volume de exportação de software e serviço não muito expressivo”, diz Sukarie. No entanto, o conselheiro alerta para as consequências indiretas.

“A gente se preocupa muito com o impacto na economia, especialmente porque o setor de tecnologia tem uma penetração horizontal. Não tem segmento de mercado que não invista em inovação”, afirmou. Ele prevê que os setores afetados pelo tarifaço americano, como a indústria e o agronegócio, deverão rever custos, cortar postos de trabalho e reduzir o volume de investimentos. “Reduzindo receita, essas empresas terão que reavaliar também investimentos. Deixarão de investir numa série de áreas e a tecnologia não passará ilesa. O que vai ser uma lástima”, conclui.

Especialmente diante do bom momento que o mercado brasileiro de TI atravessa, segundo indicam os números divulgados pela ABES nesta quinta, 31/7. O setor cresceu 13,9% no ano passado e deve avançar mais 9,5% neste 2025, de acordo com a segunda parte do estudo “Mercado Brasileiro de Software – Panorama e Tendências 2025”.

Como aponta o levantamento, há tendências favoráveis para esse movimento, como a massificação da inteligência artificial e de data centers, a expansão de soluções de segurança para ambientes multicloud e o crescimento de mais de 40% em assinantes de serviços de conectividade de satélites de baixa órbita.

A adoção de ambientes híbridos de TI se consolidou como padrão, com uma previsão de US$ 3,5 bilhões em nuvem pública e US$ 1,3 bilhão em serviços de data center. Os projetos de inteligência artificial, que englobam infraestrutura, software e serviços, devem ultrapassar a marca de US$ 2,4 bilhões em 2025, o que representa um incremento de 30% em relação a 2024.

Quase metade desses investimentos (47,6%, ou US$ 27,9 bilhões) foi destinada a hardware, enquanto software e serviços de TI representaram 30,8% (US$ 18 bilhões) e 21,6% (US$ 12,7 bilhões), respectivamente. O Sudeste continua a liderar os investimentos, concentrando 60,8% do total.

O estudo também revela que o setor de telecomunicações foi o que mais investiu em tecnologia em 2024, com 23,2% do total. Finanças (17,1%) e indústria (13,9%) aparecem em seguida. O segmento de governo também se destacou com um aumento sensível de participação, atingindo 9,8% dos investimentos em software e serviços.

Com um total de 41.732 empresas atuantes no setor em 2024, o estudo aponta que 66,7% delas têm como atividade principal o desenvolvimento e a produção de software ou a prestação de serviços. Em um mercado dominado por micro e pequenas empresas, a participação de companhias dedicadas ao desenvolvimento de software cresceu 5 pontos percentuais, e a de microempresas com até 10 funcionários aumentou 14 pontos percentuais.

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