Trump gera oportunidade para tecnologia

A partir de 1º de agosto, caso não haja recuo diplomático, o governo dos Estados Unidos poderá impor tarifas adicionais de até 50% sobre produtos brasileiros. A medida, se confirmada, deve afetar em cheio setores como petróleo, siderurgia, aviação, agronegócio e celulose — pilares das exportações brasileiras e motores regionais em estados como Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

O impacto não será apenas cambial ou logístico. Ele reconfigura o eixo de atenção das empresas: menos foco em vendas para fora, mais esforço em sobrevivência e competitividade interna.

Para empresas de tecnologia B2B, essa virada abre uma janela: a TI deixa de ser coadjuvante e passa a ser requisito operacional para setores que precisarão reduzir custos, automatizar processos e reocupar o mercado doméstico. 

A pergunta não é se haverá oportunidade, mas sim: onde ela estará e quem vai se mover antes?

As empresas vão virar para dentro (e vão precisar de tecnologia)

Diante do risco de tarifas americanas, alguns analistas sugerem que o Brasil deveria compensar essa perda ampliando o comércio com China, Índia ou outros países dos BRICS. Em teoria, essa diversificação faz sentido. Mas, na prática, trata-se de uma manobra complexa, lenta e fora do alcance da maioria das empresas impactadas no curto prazo.

Portanto, se as tarifas forem confirmadas, o Brasil provavelmente entrará numa dinâmica inevitável: a substituição de mercados externos pelo esforço interno de compensação. Empresas exportadoras perderão competitividade. O real, pressionado, elevará o custo de insumos e tecnologias importadas. A pressão por rentabilidade, eficiência e previsibilidade aumentará em todos os setores.

Nesse novo cenário, o foco se desloca. O discurso sobre “transformação digital” dá lugar a uma pergunta simples e urgente: “como eu continuo operando, mesmo com margem apertada, cadeia pressionada e clientes mais exigentes?”

É nesse ponto que a tecnologia deixa de ser uma promessa e passa a ser um caminho inevitável.  Empresas que atuam com soluções de TI — especialmente nos mercados B2B — terão papel decisivo. Não por hype, mas por necessidade operacional. A tecnologia deixa de ser diferencial e passa a ser condição de sobrevivência.

5 segmentos que devem crescer mesmo em um cenário adverso

Quando o mercado externo se fecha, o mercado interno precisa funcionar melhor, com mais controle, menos desperdício e mais inteligência operacional. Empresas de tecnologia B2B que entenderem os setores mais impactados poderão se posicionar como solução de sobrevivência, eficiência e ganho de competitividade. A seguir, os cinco segmentos com maior propensão de reação estratégica à crise.

Indústrias que substituirão importados

O que vai acontecer com elas: ganharão espaço no mercado interno, mas com margem apertada e pressão por eficiência. Muitas não têm estrutura digital moderna — ainda operam com baixa integração entre áreas e processos manuais.

Grande oportunidade: automação de processos críticos e integração entre sistemas existentes.

Integração entre produção, vendas e logística.

Dashboards para tomada de decisão em tempo real.

RPA para operações financeiras e fiscais.

 

Logística e transporte interno

O que vai acontecer com elas: custo logístico vai explodir (combustível, peças, manutenção) e exigirá controle e produtividade extrema. Empresas buscarão soluções para reduzir KM rodado, tempo parado, falha de comunicação e retrabalho.

Grande oportunidade: soluções sob medida para controle operacional e fluxo de informações.

Aplicativos simples de gestão de equipe de campo.

Integrações entre sistemas logísticos e financeiros.

Painéis de controle de rota, entrega, SLA e suporte.

Saúde, farma e laboratórios

O que vai acontecer com eles: alta no custo de insumos e pressão por rastreabilidade, controle de estoque e compliance (LGPD, ANVISA). Clínicas e hospitais privados buscarão ganhos de eficiência administrativa e integração de dados.

Grande oportunidade: digitalização administrativa e automação de atendimento e processos internos.

Formulários digitais, agendamentos online, prontuários integrados.

Fluxos de aprovação para compras, exames, autorizações.

Automação de relatórios regulatórios e de faturamento.

 

Construtoras, engenharias e infraestrutura física

O que vai acontecer com elas: com a tentativa de ativar a economia, espera-se aceleração de obras públicas e privadas. Mas a operação continua desorganizada: papelada, planilhas e baixa integração entre campo e escritório.

Grande oportunidade: aplicações leves para integração de times, digitalização de processos e controle de obra.

Plataformas de OS e medição.

Fluxos de aprovação de compras e pagamentos.

Comunicação entre campo e escritório (por exemplo, via WhatsApp e dashboards).

 

Distribuidores e Atacadistas Regionais

O que vai acontecer com eles: enfrentarão aumento no custo logístico, flutuação cambial sobre itens importados e necessidade de manter competitividade nos preços, especialmente em mercados regionais. Para compensar essa pressão, precisarão ganhar eficiência em processos operacionais e comerciais.

Grande oportunidade: digitalização de processos de vendas, logística e gestão de estoque.

Automação do fluxo de pedidos e faturamento.

Integração entre ERP e canais de vendas.

Aplicações sob medida para controle de metas, CRM e atendimento comercial.

Dashboards para reposição de estoque, controle de margens e performance de representantes.

A forma de vender TI também vai mudar rápido

Em tempos de retração, as empresas compram de forma diferente. Não há mais espaço para promessas genéricas, ciclos longos sem clareza de retorno ou demonstrações que se apoiam apenas em funcionalidades. O critério muda. A pergunta muda.

Não se trata mais de “como essa tecnologia funciona?”, mas sim: “o que ela resolve agora, com o mínimo de risco e o máximo de impacto?”

Soluções que não entregam ROI tangível em pouco tempo serão descartadas sem cerimônia. Ciclos consultivos longos, com múltiplas apresentações e personalizações, só permanecerão viáveis quando acompanhados de uma oferta de entrada clara, com foco em dor real e urgência operacional.

É o fim da abordagem genérica e o início da era da oferta afiada. Quem souber construir um ponto de entrada estratégico, conectado ao novo cenário, com uma oferta de vitória rápida, baixo risco e baixo comprometimento financeiro inicial, vai acessar o cliente antes da concorrência e se tornar parte da solução antes que o caos se instale.

Julho e agosto são o novo “pré-jogo”:  a virada começa em setembro

Se o cenário de tarifas se confirmar em agosto, o mercado brasileiro entrará imediatamente em modo defensivo: revisão de contratos, redirecionamento de metas e aceleração de cortes ou replanejamentos. Mas logo depois virá o inevitável: a corrida por eficiência.

Historicamente, o período entre setembro e novembro concentra decisões de compra mais estratégicas, impulsionadas por três fatores:

A necessidade de mostrar reação ao mercado antes do fechamento do ano.

A reorganização orçamentária para o ciclo seguinte.

A tentativa de garantir entregas ainda em 2025.

Esse intervalo será, portanto, a janela mais promissora do segundo semestre para quem vende soluções de TI com impacto operacional direto.

Só que quem deixar para agir em setembro já vai chegar tarde.

Julho e agosto são meses de preparação silenciosa. E, mais do que isso: são a última janela de oportunidade para planejar uma estratégia de prospecção em nichos destes cinco segmentos que citei.

É agora que se ajusta a proposta única de valor, se afia a oferta e se busca os pontos de conexão com estes nichos. Sem depender da prospecção fria, apenas utilizando os relacionamentos estratégicos e a autoridade para acessar os clientes potenciais mais rápido.

Oportunidade é o que antecede o pânico

Grandes movimentos de mercado raramente chegam acompanhados de anúncios formais. Eles dão sinais  e os sinais já começaram.

Se as tarifas forem confirmadas, o Brasil entrará num ciclo de reindustrialização forçada, substituição de importações e busca por eficiência operacional. É um momento de retração externa e reconstrução interna.

E a tecnologia será um dos principais instrumentos dessa reconstrução.

Empresas de TI que enxergarem isso agora terão uma vantagem assimétrica nos próximos meses, por ocuparem os espaços certos antes que a urgência se imponha.

Logo, julho e agosto são meses decisivos. Não para fechar negócios, mas para estar pronto quando eles começarem a aparecer. Porque quando a corrida começar, não haverá tempo para se reposicionar. Estar no lugar certo, com a oferta certa, vai fazer toda a diferença.

Você vai esperar ou vai agir? É uma corrida contra o tempo.

*Por Marcelo Morem.

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